sexta-feira, 22 de agosto de 2008
A FESTA, O SILÊNCIO E O VELÓRIO
As lágrimas corriam como cascatas no deserto, uns poucos se aglomeravam perto do caixão e das poucas velas quase apagando. Era um velório, porém diferente, ou seja, anormal. As poucas vidas ali presentes se manifestavam muito lentamente.
Tudo parecia calmo, muito calmo. O pior era saber que se tratava de um homicídio, porém silencioso. Alguns nem sabiam que eram responsáveis por aquela morte, mas eram todos cobaias de gente de alta classe. Os suspeitos de planejarem o assassinato eram bem conhecidos, muito afamados.
Uma senhora chamada televisão mal programada era uma das suspeitas, trazia consigo alguns falsos testemunhos, e o pior: a camuflagem. Trazia ainda obras literárias modificadas, assuntos incertos e uma porção de propagandas. Era linda, adorada, amada, presente na maioria dos lares daquela pátria. Seus seguidores eram nela alienados e muitas vezes a respeitavam mais que a própria família, pois os pais deixavam de conversar com os filhos para seguir os conselhos desta madame. Talvez tivessem um pouquinho de razão, pois era uma senhora muito bonita e mostrava um mundo que era mil maravilhas, onde tudo no final acabava bem. Puxa vida, que legal!
Quem estava no caixão era uma senhora, agora pouco conhecida, quase esquecida por muitos, seu nome era Cultura. A maioria a ignorava, pois era uma senhora mais idosa e para conhecer sua beleza era necessário a conhece-la profundamente, mas isso era muito trabalhoso, pois viviam num mundo moderno e a maioria não se interessava em conhecer melhor, pois tomava muito tempo. Seus pensamentos pareciam ultrapassados, pois não mostrava as cenas da ultima novela. Ainda quem quisesse conviver com ela teria que ler grandes livros, ser disciplinado e civilizado. Isso parecia difícil, era como se houvesse uma pedra no sapato dos modernos.
E o velório seguia, alguns senhores e algumas senhoras insistiam em velar aquela criatura agora gelada, mais tarde estaria lacrada em um túmulo escuro num campo poluído e se manteria silenciosa talvez por toda a eternidade. Alguns livros empoeirados, telas que antes eram chamadas de obras de arte, canções... Tudo naquele profundo silêncio. Era triste, muito triste.
Mas a certas alturas daquele funeral, algo chamou a atenção, uma senhorita com pouca roupa desfilava sorrindo, era muito bela e ganhava olhares de todos, pois afinal trazia coisas muito belas apesar de deixar tristes rastros de poluição, mas isso era o que menos importava. Era a senhorita Modernidade, que trazia consigo muitos seguidores, a maioria alienados e faziam de conta que nem viam o velório. A Modernidade é linda! Parecia ser neutra,mas trazia vários blocos que dividiam opiniões entre si, mas todos iam para o mesmo rumo. Tinha o bloco das drogas, das marcas, da alienação e tantos outros. Era fácil de segui-la, pois não era preciso ser civilizado, bastava “ter”.
Quem por ali passava podia escolher quem ia seguir. Cada um tinha livre arbítrio, sendo assim, podiam decidir. Campanhas faziam apologias para ambos os lados, porém o lado da senhorita modernidade era dotado de muita beleza e “felicidade”. Puxa vida que legal!
No meio de tudo isso havia um silencio profundo, como se nada estivesse acontecendo, como se fosse normal matar e morrer. E no meio desse silencio surgia um grupo de estudiosos que tentavam ressuscitar a senhora cultura. Como era difícil, travar uma batalha contra a maioria.
Tudo se passava em um tempo que parecia não ter fim, a senhorita Modernidade trazia cada vez mais coisas novas. Era o mundo, uns festavam, outros apenas trabalhavam, outros choravam, alguns lutavam. Cada ação trazia conseqüências negativas e positivas dependendo do que era feito.
E tudo isso segue até hoje. E você, vai com a modernidade? Com a minoria que conserva suas origens? Ou ficará no silencio?
(ANDERSON GIBATHE)
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